📖 Os Quatro Evangelhos: Provas de sua Autenticidade e Autoria
Os quatro Evangelhos canônicos — Mateus, Marcos, Lucas e João— são reconhecidos pela Igreja Católica como os únicos inspirados por Deus e autenticamente ligados aos apóstolos ou seus discípulos diretos. A tradição da Igreja, desde os primeiros séculos, preservou cuidadosamente a autenticidade desses textos, baseando-se em testemunhos de autoridades eclesiásticas que viveram próximas aos tempos apostólicos. Este artigo apresenta as principais provas históricas e teológicas que sustentam a autoria e a veracidade dos quatro Evangelhos, com base em figuras-chave como Papias, Tertuliano, Orígenes e São Cirílio de Jerusalém.
1. Papias de Hierápolis: A Testemunha Mais Próxima dos Apóstolos
Quem foi Papias?
Papias de Hierápolis (c. 60-130 d.C.) foi um bispo do início do século II e uma das figuras mais próximas dos tempos apostólicos. Ele conviveu com discípulos diretos dos apóstolos e é considerado uma das primeiras autoridades a registrar informações sobre a origem dos Evangelhos. Sua proximidade com os apóstolos e seus seguidores o torna uma fonte valiosa para entender como a Igreja primitiva preservava a tradição oral e escrita.
Obra e Testemunho: Em sua obra Exegese dos Oráculos do Senhor, citada por Eusébio de Cesareia em História Eclesiástica (III, 39, 3-4), Papias descreve o cuidado meticuloso da Igreja primitiva na transmissão das palavras de Jesus.
Ele escreveu:
“Em teu favor, não hesitarei em aditar às minhas explicações o que aprendi outrora dos presbíteros e cuja lembrança guardei fielmente, a fim de corroborar a manifestação da verdade. Efetivamente, não aprecio os que falam muito, como acontece à maioria dos homens, e sim os que ensinam a verdade; nem junto dos que relembram preceitos estranhos, e sim junto dos que comemoram os mandamentos do Senhor impostos aos fiéis e nascidos da própria verdade. No entanto, se vinha a determinado lugar algum dos companheiros dos presbíteros, informava-me sobre as palavras dos presbíteros: o que disseram André ou Pedro, ou Filipe, ou Tomé, ou Tiago, ou João, ou Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor; o que dizem Aristion e o presbítero João, discípulos do Senhor. Não pensava serem tão úteis os ditos provenientes dos livros quanto o que derivava de uma palavra viva e permanente.”
Papias enfatiza a importância da tradição oral, diretamente ligada aos apóstolos, e destaca que os Evangelhos foram baseados em testemunhos confiáveis. Ele menciona Mateus e Marcos especificamente, confirmando que Mateus escreveu em hebraico para os judeus convertidos e que Marcos registrou as pregações de Pedro. Sua obra reforça a ideia de que a Igreja primitiva era extremamente cuidadosa na verificação das informações antes de aceitá-las como autênticas.
2. Tertuliano: Defensor da Fé e da Autenticidade Apostólica
Quem foi Tertuliano?
Tertuliano (c. 155-240 d.C.), nascido em Cartago, no Norte da África, era filho de pais pagãos e estudou Direito em Roma. Após sua conversão ao cristianismo, tornou-se um dos mais importantes teólogos e apologistas da Igreja primitiva.
Ele voltou a Cartago, onde se destacou como pregador e escritor, defendendo a fé cristã contra heresias.
Obra e Testemunho: Em sua obra Adversus Marcionem, Tertuliano defende a autenticidade dos quatro Evangelhos, destacando sua origem apostólica:
“Sustentamos que o instrumento evangélico tem por autores os Apóstolos..., ou, se os autores são discípulos dos Apóstolos, não puderam escrever sozinhos, mas com e segundo os Apóstolos... Entre as Igrejas unidas a elas, o Evangelho de Lucas se manteve desde a sua publicação tal qual o defendemos hoje... As Igrejas apostólicas cobrem hoje com a sua autoridade e patrocínio os mesmos, cheios em nossas mãos... Refiro-me aos de João e de Mateus, e outrossim ao de Marcos, embora este último seja atribuído a Pedro, de quem Marcos era intérprete, como é atribuída a Paulo a narração de Lucas... O fato é constante: todos os Evangelhos se encontravam nas Igrejas daqueles tempos... Numa palavra, os que nos ensinam a fé são, entre os Apóstolos, João e Mateus; entre os discípulos dos Apóstolos, Lucas e Marcos.”
Tertuliano confirma que os Evangelhos de Mateus e João foram escritos diretamente por apóstolos, enquanto Marcos e Lucas, discípulos de Pedro e Paulo, respectivamente, escreveram sob a autoridade apostólica. Ele também atesta que esses textos já eram amplamente aceitos nas Igrejas apostólicas, reforçando sua legitimidade.
3. Orígenes: O Erudito de Alexandria
Quem foi Orígenes?
Orígenes (c. 184-254 d.C.), natural de Alexandria, no Egito, foi um dos maiores teólogos e estudiosos da Igreja primitiva. Apesar de algumas de suas ideias terem sido controversas, sua contribuição para a exegese bíblica e a defesa da fé cristã é inegável. Ele escreveu extensivamente sobre as Escrituras e foi um dos primeiros a sistematizar a interpretação dos Evangelhos.
Obras e Testemunho: Em seu comentário Evangelium secundum Matthaeum (I, prólogo), Orígenes escreve:
“Conforme aprendi da tradição sobre os quatro Evangelhos, os únicos também indiscutíveis na Igreja de Deus que há sob os céus, foi escrito em primeiro lugar o evangelho segundo Mateus; este anteriormente fora publicano e depois Apóstolo de Jesus Cristo. Ele o editou para os fiéis vindos do Judaísmo, redigindo-o em hebraico. O segundo é o Evangelho segundo Marcos, que o escreveu conforme as narrações de Pedro, o qual o nomeia seu filho na carta católica, nesses termos: ‘A que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho’ (1Pd 5,13). E o terceiro é o Evangelho segundo Lucas, elogiado por Paulo (cf 2Cor 8,18-19; 2Tm 2,8; Cl 4,14) e composto para os fiéis provenientes da gentilidade. Enfim, o Evangelho segundo João.”
Orígenes reafirma a tradição da Igreja sobre a autoria dos Evangelhos, destacando que Mateus escreveu para os judeus, Marcos sob a influência de Pedro, Lucas para os gentios (ligado a Paulo) e João como o último.
Evangelho, de caráter teológico mais profundo. Sua autoridade reforça a aceitação unânime dos quatro Evangelhos na Igreja.
4. São Cirílio de Jerusalém: O Guardião da Ortodoxia
Quem foi São Cirílio?
São Cirílio de Jerusalém (c. 313-386 d.C.) foi bispo de Jerusalém e um dos grandes catequistas da Igreja Católica. Suas Catequeses são um marco na formação dos novos cristãos, oferecendo instruções claras sobre a fé e os sacramentos. Ele desempenhou um papel crucial na defesa da ortodoxia contra heresias, como o maniqueísmo.
Obra e Testemunho: Em suas Catequeses pré-batismais (4, 36), Cirílio afirma:
“No Novo Testamento, há só quatro Evangelhos. Os demais são pseudoepígrafos (apócrifos) e nocivos (Cat. 6,31). Mesmo os maniqueus escreveram o Evangelho de Tomé, que disfarçado sob o nome de Evangelho seduz as almas dos simples. Recebe ainda os Atos dos doze Apóstolos e, além disto, as sete epístolas católicas: de Tiago e Pedro, João e Judas. A seguir, como que o selo de todos e a derradeira obra dos discípulos, as catorze epístolas de Paulo. Todos os demais livros sejam postas em segundo plano. Todos os que não são lidos nas igrejas, não os leias em particular como já ouviste (Cat. 6,33 e 35). Sobre isto basta.”
Cirílio enfatiza que apenas os quatro Evangelhos são autênticos e inspirados, rejeitando textos apócrifos, como o Evangelho de Tomé. Ele reforça a autoridade da Igreja em determinar o cânon sagrado, orientando os fiéis a se aterem aos textos lidos nas assembleias litúrgicas.
Conclusão: A Solidez da Tradição Apostólica
Os testemunhos de Papias, Tertuliano, Orígenes e São Cirílio de Jerusalém demonstram a consistência da tradição da Igreja Católica na preservação dos quatro Evangelhos como os únicos autênticos e inspirados. Desde o século I, com Papias, até o século IV, com Cirílio, a Igreja foi cuidadosa em identificar os textos escritos pelos apóstolos (Mateus e João) ou por seus discípulos diretos (Marcos e Lucas), rejeitando obras apócrifas. Essa tradição, fundamentada na **autoridade apostólica e na prática litúrgica, **garante que os quatro Evangelhos são a verdadeira palavra de Deus, transmitida fielmente para orientar a fé dos cristãos.
Referências:
Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, III, 39, 3-4. Tertuliano, Adversus Marcionem. Orígenes, Evangelium secundum Matthaeum, I, prólogo. São Cirílio de Jerusalém, Catequeses pré-batismais, 4, 36. Programa Força de Deus com Frei Gilson e Bispo José Francisco Falcão https://youtu.be/fNusDvEeEyc?si=Ln51VPAz5E358qjs