há muitas formas de demonstrar vulnerabilidade. pra mim é muito confortável falar sobre minhas emoções e o que elaboro a partir delas. pra outras pessoas isso é um ato de vulnerabilidade. me colocar vulnerável é falar do que penso que sei, é arriscar dizer algo que aprendi, é falar de um assunto ou ideia que tive sem ninguém ter me perguntado. de todo modo, o que eu queria dizer é que a vulnerabilidade, de qualquer modo, me inspira. em que tipo de ação você se sente vulnerável? e quando foi a última vez que você arriscou viver isso?
eu muitas vezes sinto minha fala meio deslocada dos acontecimentos. não em conversas com as pessoas, embora eu normalmente observe bem mais o que a pessoa sente do que o que ela diz. mas aqui, por exemplo. eu acho esquisito eu falar de algo que vivi enquanto as pessoas estão falando de outras coisas que parecem ter mais relação entre si do que qualquer coisa que eu diga. acho que eu tenho mesmo essa sensação de estar meio deslocada da vida, e que a expressão que surge dos meus desejos não compõe, não agrega, não nutre ninguém. mas eu tenho achado cada vez mais brechas pra ser eu e me expressar e ver que eu não estou separada como nesses momentos insisto em acreditar. ontem eu fui ao velório de um pai. era o pai do pai da minha cunhada. era um velório de alguém que viveu muitos anos e estava, por mais que doesse, entregue. tinha tristeza, mas era uma tristeza calma. na sala ao lado, apareceram pessoas com camisas iguais, com a foto de um homem e a data de nascimento, dois anos mais novo que eu, e a data da morte. as pessoas não estavam tranqüilas. tinha sido uma morte inesperada, dolorida. eu queria abracá-los, me lembrei da morte do meu pai quando eu tinha 17 anos e foi mesmo dilacerante na época. pouco antes eu tinha visto que alguém (eu sei quem, mas fico sem jeito de marcar a pessoa nesse post enorme) tinha comentado na nota que escrevi falando da morte do meu pai há alguns dias. mas nem tinha associado a nada. na hora do enterro começou a tocar uma música e a letra trazia um filho conversando com o pai. e, nessa hora, eu, que fico questionando os papéis e nomes das coisas toda hora, senti a potência de ter esse nome para dizer da relação entre o ser que também nos deu a vida e tem uma força na nossa história independente do que vivemos juntos. e eu fiquei chorando e sentindo o que chegava, querendo estar mais presente com a família, com minha cunhada e com meu irmão, mas fiquei mais distante, ao lado da minha irmã, vivendo ali o mistério dos encontros. com a mente mais agitada do que eu gostaria, dando menos abraços do que eu gostaria, mas contemplando a morte do pai, dos pais. e meu vontade de compartilhar isso aqui. porque as interações aqui também levaram sentido e me ajudaram a integrar e sentir lá.