escrevi isto 7 anos atrás e deu vontade de compartilhar aqui: -- quando eu vi tanta gente tentando enganar o outro eu me lembrei de tantas vezes não falar o que penso por medo de não ser aceita - me vi enganando. quando eu vi tanta gente confusa, repetindo jargões por todos os lados sem pensar direito, sem sentir, sem olhar, eu me lembrei das tantas vezes que não vi o que estava à minha frente, cega pelas minhas certezas. quando eu vi ódio eu me lembrei de toda raiva que senti, não me permiti acessar e não acolhi. quando eu vi manipulação lembrei de tantas vezes desejar agradar o outro em uma conversa. tantas vezes querer mudar a emoção dele, sem respeitar a que estava se manifestando no momento. quando eu vi crença na superioridade moral eu me lembrei do quanto eu acreditei que a vida era uma escada rumo à evolução. me lembrei das vezes que competi secretamente desejando ser a mais boazinha e a que salva a todos. quando eu vi medo eu me lembrei de momentos em que me faltou coragem para me ver de verdade. ver toda raiva que senti e guardei. ver a inveja, a vaidade, o orgulho que se instalaram diversas vezes dentro de mim. quando vi pena, me lembrei das vezes que quis salvar o outro porque me achava superior, não confiava em suas potencialidades. quando vi o outro, me vi. e quando me vi nele me lembrei que não estou sozinha aqui. aquele que parece tão diferente me mostra exatamente o que existe em mim. e eu quero dizer isso de todas as formas que conseguir.
amora ❤️ image
só tenta manipular quem não se sente livre pra ser quem é
eu escrevi isto há cinco anos e este tema apareceu na minha prática desta manhã. não porque ele se repete, idêntico. não sou a mesma, e quando acredito que algo se repete é porque ainda não consegui perceber a novidade que me traz. talvez eu esteja triste, mas essa não é uma tristeza devastadora como um furacão que passa movendo tudo de lugar. é só uma tristeza que surgiu depois da súbita consciência de que a pressa pra viver antes de morrer me fazia adiar o que era mais importante. pensava que fazer o crucial marcaria imediatamente meu fim mas, descobri, eu precisava agora daquilo que percebi como mais importante. e vivê-lo não seria o fim da minha vida embora com certeza marcasse o fim de uma vida minha. era principalmente o começo. o começo de uma nova vida. e agora assumo a tristeza, essa que surgiu quando me dei conta de que esse começo não revela nada grandioso, nenhuma ação heróica causadora de enormes explosões de transformação em tudo. é um começo tão simples quanto o cair de uma folha de uma árvore qualquer em seu devido tempo acompanhada do vento. eu sinto essa tristeza me percorrendo devagar e já me sinto tomada pela beleza das sutilezas cotidianas. me emociona um pequeno pé recostado em minha perna e um braço com uma pele macia tocando de leve o meu. essa simplicidade toda me toca a superfície e as profundezas e me move tão delicadamente que se vai todo o pesar por minha existência ser brisa.
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