Polícia de SP abre inquérito contra jornalista que denunciou delegado
Reportagens que detalharam o acúmulo de bens do delegado Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, motivaram a abertura de um inquérito contra o jornalista Luiz Vassallo, do portal Metrópoles, pela Polícia Civil de São Paulo (SP).
A investigação começou depois de matérias publicadas em março, nas quais o ex-diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) teve seu patrimônio milionário exposto.
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O jornalista recebeu notificação da Divisão de Crimes Cibernéticos, vinculada ao Deic. Não houve detalhes sobre o delegado responsável, ou mesmo se o jornalista iria depor na condição de testemunha, ou de investigado.
O documento apenas indica o número do inquérito e adverte que a ausência do jornalista poderá resultar em sanções previstas no artigo 330 do Código de Processo Penal, que trata de desobediência.
Conforme informado pelo portal, as reportagens que motivaram o inquérito mostraram que Fábio Caipira protegeu cerca de R$ 10 milhões em bens, incluindo fazendas, por meio de uma sociedade anônima, depois de aparecer em delação premiada por Vinícius Gritzbach, o delator do PCC morto no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024. A Polícia já encerrou o inquérito sobre esse caso.
Repercussão sobre o caso em SP

Delegado Fábio Pinheiro Lopes | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) declarou que a instauração da investigação ocorreu para apurar suposto crime contra a honra, com registro formal feito por Fábio Caipira na Divisão de Crimes Cibernéticos.
“De acordo com a legislação vigente, uma vez comunicada a possível ocorrência de delito, cabe à autoridade policial adotar as providências legais cabíveis para a devida apuração dos fatos", informou a SSP-SP. "Observando o devido processo legal e os princípios que regem a investigação criminal.”
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Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiou a abertura do inquérito, o qual classificou como tentativa de intimidação e censura. Para o órgão, o ato fere a liberdade de imprensa e o direito à informação.
“Trata-se de uma tentativa evidente de intimidação e censura, que agride frontalmente a liberdade de imprensa e o direito da sociedade à informação”, afirmou.
Posição do jornalista
Na sua conta do X, Vassallo escreveu que "é muito comum que pessoas descontentes nos processem, inclusive no criminal".
"Mas essa é a primeira vez que me encontro nessa condição: um inquérito sobre crime contra a honra sendo apurado por uma divisão especializada em 'crimes ciberneticos', que usualmente apura fatos bem maiores", disse. "Em inquérito, ao contrário da ação penal privada, delegados podem nos investigar. Podem, se quiserem, pedir até medidas cautelares. Ou, como foi feito, pedir um interrogatório seu sem você sequer saber que é investigado para daqui a dois dias."
Antes de ontem, fui surpreendido por uma notificação para depôr no Deic.
Ela só tem o primeiro nome de uma escrivã.
Não era possível sequer saber se estavam me chamando como testemunha, vítima ou investigado.
— Luiz Vassallo (@Luiz_Vassallo)

X (formerly Twitter)
Luiz Vassallo (@Luiz_Vassallo) on X
Antes de ontem, fui surpreendido por uma notificação para depôr no Deic.
Ela só tem o primeiro nome de uma escrivã.
Não era possível sequ...
O delegado não se manifestou sobre o caso até o momento. Oeste entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública para saber se há uma manifestação oficial de Pinheiro Lopes, mas ainda não obteve retorno.
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